segunda-feira, 11 de março de 2013

Charlie

Não ouvia Charlie Brown Jr. todos os dias. Aliás, não ouvia já há algum tempo as excelentes músicas da banda, que teve altos e baixos durante sua história. Mas sempre quando estava dentro do carro, enjoava dos programados e começava a sintonizar as rádios à procura de alguma companhia, se ouvia alguma música cantada por Chorão, mesmo que estivesse no final dela, parava para escutar. E escutava, não simplesmente ouvia. 

Chorão fazia essa mística em suas canções. Provocava o desejo de escuta, não simplesmente o sentido da audição. As palavras autobiográficas do santista diziam muito mais do que o próprio som. Cresci andando de skate e ouvindo Charlie Brown. Posso dizer que fui marcado por muitas dessas músicas românticas e ao mesmo tempo inconformadas.

Na hora você não percebe que uma parte da tua cultura, da tua vida tá indo embora. Mas depois, vendo todas as homenagens e todos os choros por Chorão, a ficha de uma certa forma cai, mesmo sem nunca ter contato, mesmo sem nunca ser próximo do cara. Não fisicamente. As música me fizeram mais próximos dele do que de muita gente que vejo todo dia.

E assim, não poderemos mais ouvir novas e filosóficas músicas do maluco de 'bombeta' de aba-reta e com um skate sempre no pé. Chorão lutou pelo seus interesses, foi a última voz do inconformismo que vi e que trouxe um rock poético no Brasil.

Hoje choramos por Chorão, e com razão. Ele descobriu que azul é a cor da parede da casa de Deus...