sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Uma faca de dois gumes

Jogadores se reúnem para falar sobre movimento
(Foto: Dhavid Normando/Folhapress)
Já era hora de os maiores responsáveis pelo espetáculo futebol, que vendem o produto com o próprio suor dentro de campo, se manifestarem. O Bom Senso F. C., movimento político fundado neste ano e liderado pelo meia Alex, do Coritiba e Paulo André, do Corinthians, emerge três décadas depois de Sócrates, Wladimir e Biro-Biro se unirem e levarem à paralisação do Campeonato Paulista de 1979 por dois meses, reivindicando os 30 dias de férias que a decisão do torneio os obrigava a abdicar. Não o fizeram e tiveram os 30 dias de descanso. Por fim, acabou conseguindo vencer o Palmeiras na decisão, por 1 a 0, e conquistar o torneio estadual.

O Bom Senso F.C. não precisou ser tão radical como foram os corintianos no fim da década de 70. Paulo André, Seedorf, Juninho Pernambucano, Dida, Alex e outros atletas foram recebidos pelo presidente da CBF, José Maria Marin. O mandatário prometeu um calendário mais flexível a partir de 2015. A Federação Paulista de Futebol também modificou o regulamento do campeonato estadual em 2014, encurtando a competição por causa da Copa do Mundo.

A reengenharia do calendário é, como disse acima, uma faca de dois gumes. A alternativa dos clubes grandes poderia ser utilizar equipes da base para a disputa dos torneios, assim como fez o Atlético-PR neste ano, dando maior tempo de descanso aos jogadores profissionais, visando um melhor desempenho nos campeonatos considerados mais importantes. Com a equipe paranaense, o resultado surtiu efeito. Os jogadores profissionais tiveram 90 dias de pré-temporada e, hoje, a equipe está na decisão da Copa do Brasil é o vice-líder do Campeonato Brasileiro.

A parte ruim envolve de tudo isso fica, é claro, a questão financeira. Não dos grandes, mas sim dos pequenos clubes. Grande parte dessas equipes que disputam os estaduais só conseguem ter quatro meses de competição no ano, que é justamente quando ocorrem os estaduais. As equipes que não estão em nenhuma divisão do campeonato brasileiro recebem uma arrecadação razoável pelos direitos de transmissão das partidas contra equipes "grandes" e a venda dos ingressos dessas partidas.

A liberação da equipe profissional dos clubes maiores diminuiria drasticamente o número de torcedores nos estádios dos clubes pequenos e também afastaria, em tese, o interesse na transmissão televisiva dessas partidas. A única renda grande dos clubes menores, que vivem mal das pernas há anos, seria cortada.

As federações estaduais precisariam rever e tentar encontrar alguma solução adequada para todas as partes. Talvez estimular a competição regional entre os clubes menores, fazendo um torneio unificado apenas com equipes interioranas fosse interessante. O que não pode ser tolerável é aceitar que o calendário seja alçado apenas pelos interesses econômicos do produto e que profissionais de equipes menores sejam esquecidos em um tempo onde tudo vale muito, menos o próprio futebol.

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